segunda-feira, 29 de junho de 2009

O espectáculo em seis perspectivas


Orquestra, cantores e um enorme Coro misto!

A Orquestra principal do espectáculo, constituída por mais de uma dezena de músicos locais e convidados, a que se junta um naipe de cantores de grande versatilidade, serão intérpretes da maioria do repertório recriado para “Povo Que Lavas no Rio Águeda”, com novos e potentes arranjos. Além disso, uma fusão de vários grupos corais do concelho, seis adultos e dois infantis, asseguram e complementam a parte vocal de todo o musical, com arranjos que vêm sendo trabalhados sob a orientação dos respectivos maestros e maestrinas. A 10 e 11 de Julho, no rio, esta enorme mole humana dará voz aos temas ribeirinhos de ontem e de hoje.

Grupos folclóricos transfigurados
Os elementos dos grupos folclóricos participantes prepararam a sua participação de forma pouco habitual: os ferrinhos e o cavaquinho, típicos da tocata, viram-se substituídos pelos inusitados cajón, alguidar e darbuka, uma mescla no mínimo surpreendente. “Aqui já nada nos surpreende. No último encontro, ensaiámos as coreografias do grupo folclórico ao som de música africana” diz Armando, soltando uma gargalhada. Jogos e exercícios lúdicos antecedem as sessões de trabalho em que são desafiados a desconstruir o seu próprio repertório habitual, abdicando das formas recalcadas durante décadas. Uma inovação que não os largará até à sua presença no palco aquático: as modinhas e a tocata serão substituídas pela percussão do sapateado dos dançarinos. Percussão simplista, sem letras nem rimas, mas cujo efeito colectivo se espera impactante. O protagonismo às botas e chinelas dos nossos grupos folclóricos!

Das garagens para o palco do rio
Foi lançado um convite especial a 6 grupos e bandas locais, com as mais diversas sonoridades e géneros musicais - do jazz, do trad, do clássico, do rock, do tango -, para darem novas roupagens a velhas modinhas da região. O resultado não poderia ser mais auspicioso: a canção “O Pedreiro cheira a Pedra” a ser tocado por um quinteto de metais, com tuba, trompete e trombone como protagonistas, ou o mítico “Regadinho” ser tocado numa versão blues! “Nós optámos por fazer uma versão blues do Regadinho” afirma Hélder, elemento do grupo Johnny’s Gang. “Analisámos as três versões que nos foram apresentadas - “Regadinho de Casal d’Álvaro”, “Regadinho”, e “Regadinho de Águeda” -, decidimos fazer uma compilação das letras e escrevemos um blues. O nosso folclore é bem estruturado e definido, tal como o blues e por isso não nos foi difícil proceder a esta comunhão”.

A água como cenário
Este ano, o público verá redesenhado o espaço cenográfico no leito do rio. O nível seguinte em impacto visual. A espectacularidade de “Povo que Lavas no Rio Águeda” joga-se na convivência do guião musical com novos recursos multimédia, mais as grandes construções de cena - como a nora - e as múltiplas embarcações, entre as quais uma nova grande atracção, vinda directamente da Pateira de Fermentelos: a ceifeira “Pato Bravo”, que será protagonista de um dos grandes momentos do espectáculo. Personagens imaginárias, dançarinas aquáticas e várias embarcações sonoras que emitem sons a partir da água são algumas das surpresas de um espectáculo que tem tudo para deixar a plateia deslumbrada.

Por quem um rio troca mil imagens
Há provocação constante no alinhamento do espectáculo, na fuga aos clichés e ao convencional, com vista a surpreender o público. A estética quer-se contemporânea e arrojada, com intersecções permanentes entre disciplinas artísticas. Que o diga Tiago Pereira, documentarista vídeo da tradição cultural portuguesa, responsável pela componente vídeo que ilustrará todo o guião: “Neste projecto, crio narrativamente o espectáculo através do vídeo. O interessante é a divergência que isso - novas tecnologias versus cultural tradicional – gera e o que se pode trabalhar a partir daí. Como neste país não houve revolução cultural, as coisas ficaram muito classificadas e metidas em rótulos. Actividades como Povo Que Lavas no Rio Águeda vêm dizer que, afinal, tudo é possível”.

A receita: inter-associativismo
Singular é o mínimo que se poderá dizer deste espectáculo. Mas mais singular é a solidariedade entre associações locais que, de ano para ano, cimentam laços de cooperação. “Era impensável ver esta colaboração entre as associações locais há alguns anos atrás. Estes projectos são a prova viva de que qualquer colectividade que não se abra aos outros, morre com o tempo” afirma um dos participantes. Os preparativos desdobram-se numa miríade de ensaios, encontros e reuniões, entre equipas restritas ou alargadas. Cada um é peça essencial nesta montagem voraz de um novo espectáculo e, embora ao primeiro vislumbre o ambiente pareça caótico e fragmentado, com os grupos a ensaiarem separadamente, semana após semana eles vão-se fundindo, coordenando passos, ritmos e marcações, até tudo culminar no dia de estreia.