sexta-feira, 6 de março de 2009

quinta-feira, 5 de março de 2009

Repertório (não alinhado)


Povo que lavas no rio


Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

Fui ter à mesa redonda
Bebi em malga que me esconde
Um beijo de mão em mão.
Era o vinho que me deste
Água pura, fruto agreste
Mas a tua vida não.

Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição.
Povo, povo, eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida não.

Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.


Valsa das águas

Águas do Botaréu
Águas do bem,
Do Botaréu!
Quem as provar jamais
Na vida, as poderá esquecer!
São tão suaves
Que as suas penas
Parecem de aves…
Embriagador veneno
Que não nos chega a matar…

Essa fonte de amor
Canta no seu rumor
Com infinda magia…
Vai até à serra
Por toda a terra
A melodia!

Botaréu
És a bebida mágica do amor…
Botaréu
Chama que queima, frémito e ardor.
Sedutor!
Destino forte que nos prende bem!
Botaréu
A tua fonte só encantos tem!



Coro das lavadeiras

As lavadeiras à noite
Tiram os seus aventais
Para fazer travesseiros
No meio dos areais

Enquanto o rio sozinho
Vai de levada p’ró mar
Fica a triste lavadeira
Sempre a lavar, a lavar

Bate lavadeira
Lavadeira bate
Que as nossas cantigas
Já não têm remate!

O cais abaixo da ponte
Foi feito p’rás sardinheiras
A ponte p’rós estudantes
O areal p’rás lavadeiras

As noras gemem, coitadas
Quando lhes falta a corrente
Também eu gemo e suspiro
Quando tenho o amor ausente

Bate lavadeira
Lavadeira bate
Que as nossas cantigas
Já não têm remate!

Que dirão os marinheiros
Do barquinho manso e leve
Quando virem nossos braços
Tão brancos da cor da neve?

Que dirá o próprio rio
Quando vier disfarçado
Beijar-me o pé dentro d’água
Tão fresquinho e tão lavado

Bate lavadeira
Lavadeira bate
Que as nossas cantigas
Já não têm remate!
Olha para a água

Olha para a água
Ri-te para mim
Põe o pé na areia
Faz assim, assim

Meu amor não anda
Nada satisfeito
Está um figurão
Merece respeito


Barquinha

Correndo lá vão as águas
Gemendo lá vai o rio
Confesso as tristes mágoas
Rosário de pranto em fio
Barquinha, barquinha
Barquinha no mar
Eu sei duma barquinha
Que sabe navegar

Jangada à roda e sem norte
Onde irá ela arribar
Senhora da Boa Morte
Ajudai-me a barquear
Barquinha, barquinha
Barquinha no mar
Eu sei duma barquinha
Que sabe navegar


Ó ribeirinho

Ó ribeirinho
Barco pardo
Deixa-me passar
Para o outro lado

Ó ribeirinho
Barco veleiro
Anda depressa
Chega primeiro

Ó ribeirinho
A murmurar
Traz o meu amor
Para bem te amar

Ó ribeirinho
Ó ribeirão
Não tenho mágoa
Tenho paixão

Ó ribeirinho
De água corrente
Lavas as mágoas
De tanta gente

Ó ribeirinho
Barco pardo
Deixa-me passar
Para o outro lado



É um ar que lhe dá

Quem me fora linho fino, ai
Ou retrós de qualquer cor
Para andar no teu peitinho, ai
A servir d'apertador.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Quem vira sou eu.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Teu amor sou eu.

Julgavas qu'eu te queria, ai
Olha o engano do mundo
Os meus olhos já navegam, ai
Noutro pocinho mais fundo.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Quem vira sou eu.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Teu amor sou eu.

As noras gemem coitadas, ai
Quando lhes falta a corrente
Também eu gemo e suspiro, ai
Quando tenho o meu amor ausente.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Quem vira sou eu.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Teu amor sou eu.

Muito padece quem ama, ai
Mais padece quem namora
Mais padece quem não vê, ai
Seu amor a toda a hora.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Quem vira sou eu.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Teu amor sou eu.

Passarinho não te canses, ai
De cantar sobre o teu ninho
Não se cal'a tua voz, ai
Não s'acabe à roca o linho.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Quem vira sou eu.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Teu amor sou eu.

Cantigas de namorados, ai
São como pombas no ar
Quem me dera os meus cuidados, ai
Feitos pombas a voar.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Quem vira sou eu.

É um ar que lhe dá
É um ar que lhe deu
Ai é um ar que lhe dá
Teu amor sou eu


Coro das salineiras

Já que nasci sardinheira
Sardinheiras vou plantar
Nos olhos de um marinheiro
Com quem me vou a casar

Sardinheiras são morenas
Morenas de cativar
Sardinheira da sardinha
Passa a vida a sardinhar

Não há morenas bonitas
Senão à beira do mar
Sardinheira da sardinha
Passa a vida a sardinhar


O pedreiro

O pedreiro cheira a pedra
Carpinteiro à madeira
Cada qual o seu ofício
Eu também sou lavadeira

Eu também sou lavadeira
Lavo no rio Jordão
Lavo saias entremeios
Também lavo o meu calção

Lavo saias entremeios
Também lavo o meu calção
Ó que bela lavadeira
Lava a roupa sem sabão


Povo que lavas no rio

Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

Fui ter à mesa redonda
Bebi em malga que me esconde
Um beijo de mão em mão.
Era o vinho que me deste
Água pura, fruto agreste
Mas a tua vida não.

Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição.
Povo, povo, eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida não.

Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.


Regadinho

Água lev'o regadinho
Água leva e vai regar
Estas mocinhas d'agora
Já não sabem namorar

Água lev'o regadinho
Água leva e vai regar
A água do nosso rio
Corre toda para o mar

Água lev'o regadinho
Água lev'o regador
Enquanto rega e não rega
Vou falar ao meu amor


Água lev'o regadinho
Vai regar o almeirão
Enquanto rega e não rega
Descansa o meu coração

Sou bonita sou bem feita
Sou delicada em tudo
Mal haja um pouco haver
Que é o que desmancha tudo

Água lev'o regadinho
Água lev'o regador
Enquanto rega e não rega
Vou falar ao meu amor



Balada

Enquanto a lua
Seu luar faz
A terra dorme
Na santa paz

E o marinheiro
Sereno está
Sempre cantando
Trá-lá-rá-lá

É como a lua
Meu coração
Sorrindo brilhante
Brilhando constante
Pela amplidão

E o marinheiro
Sereno está
Sempre cantando
Trá-lá-rá-lá

Não há no mundo
Sombra de dor
Que encubra a lua
Do meu amor

O meu destino
Gravado está
Nesta cantiga
Trá-lá-rá-lá

Minha alma é ave
Branca de azul
Correndo de leve
Branquinha de neve
De Norte a Sul

O meu destino
Gravado está
Nesta cantiga
Trá-lá-rá-lá



Barcarola

Leva arriba, marinheiro
Ai-lé, tiro-lé, ai-ló
Já é tempo de arribar!
Ai-lé, tiro-lé, ai-ló
O lenço da minha amada
Ai-lé, tiro-lé, ai-ló
Já me está de lá a acenar!
Ai-lé, tiro-lé, ai-ló

Ai-lé, tiro-lé, ai-ló
Orça ao leme, vira, vira
Ai-lé, tiro-lé, ai-ló
Bota a vara dianteira
Ai-lé, tiro-lé, ai-ló
P’ra fazer a continência
Ai-lé, tiro-lé, ai-ló
Às pernas da lavadeira!
Ai-lé, tiro-lé, ai-ló


A pedra que está no rio

A minha mãe e a tua
Vão ambas lavar ao rio
Uma lava, outra torce
Ambas s'tão ao desafio

A pedra qu'está no rio
Mandei-a eu assentar
Não é minha não é tua
É de quem nela lavar

Amores d'além do rio
Não os quero por dinheiro
Cada vez que vou lá vê-los
Dou três vinténs ao barqueiro

A pedra qu'está no rio…

Chamaste-me lavadeira
Por estar no rio a lavar
Eu passo uma vida alegre
Na ribeira a namorar

A pedra qu'está no rio…

Com saia enxovalhada
Toda cheia de poeira
Tudo isto é trabalho
Para a mesma lavadeira

A pedra qu'está no rio…

Da outra banda do rio
Estão meninas a lavar
Rema, rema meu barqueiro
Quem me dera lá chegar

A pedra qu'está no rio…



A roupa do marinheiro

A roupa do marinheiro
Não é lavada no mar
É lavada no meu barco
Quando vou a navegar

Eu sou marinheiro, olé que sou
Que linda barquinha no mar se afundou
No mar se afundou, no mar andará
Que linda barquinha, não se afundará

A roupa do marinheiro
Não é lavada no rio
É lavada no meu barco
À sombrinha do navio

Eu sou marinheiro, olé que sou
Que linda barquinha no mar se afundou
No mar se afundou, no mar andará
Que linda barquinha, não se afundará



Xácara da Joaninha lavadeira


A Joaninha lavadeira
Tinha feitiços no olhar
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
Tinha feitiços no olhar
E entretanto a negra vida
Passou-a sempre a lavar
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
Passou-a sempre a lavar

Não gastava água do rio
Para a roupa ensaboar
Molhava a roupa nos prantos
Que estava sempre a chorar
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
Ai da pobre Joaninha
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
Que viveu sempre a chorar

Um dia certo morgado
À beira d’água foi dar
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
À beira d’água foi dar
E encontrando a Joaninha
Pôs-se com ela a falar
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
Pôs-se com ela a falar
Joaninha, Joaninha
Os teus olhos não têm par
E os lábios do morgadinho
Foram seus lábios beijar
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
Ai da pobre Joaninha
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
Que viveu sempre a chorar

E depois que o morgadinho
Os seus lábios, foi beijar
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
Os seus lábios, foi beijar
Nunca mais a Joaninha
Se viu no rio a lavar
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
Se viu no rio a lavar

Dizem que certo demónio
Sua alma foi tentar
E a Joaninha lavadeira
Aos infernos foi parar
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
Ai da pobre Joaninha
Trá-lá-lá-lá-lá, trá-lá-lá-lá-lá
Que viveu sempre a chorar


Souto do rio


Nessa margens verdejantes
Eu passava sempre dantes
Dias de amor e de esperança.
Mas os sonhos de algum dia
Vivem já da nostalgia
Dos meus tempos de criança.

Tudo passou, nada resta!
E em meu peito não há festa
Que a mocidade abalou…
Vou carpindo a minha mágoa
Aqui bem perto da água
Que um dia me retratou…

Souto do Rio!
Ai que saudades que sinto
De tanta ilusão!...
Meu coração,
Bem o pressinto!
Sai do meu peito
Para voltar
Junto de ti
E amar…

Quem algum dia, em segredo,
Nas sombras do arvoredo
Por amores se perdeu,
Hoje vive da saudade
Em busca duma amizade
Que era promessa do Céu…

Mas se quem sofreu na vida,
Tem um dia prometida
Ventura com que sonhou,
Meu coração tão cansado
Já se sente resgatado
Pelo muito que ele amou!

Souto do Rio!
Ai que saudades que sinto
De tanta ilusão!...
Meu coração,
Bem o pressinto!
Sai do meu peito
Para voltar
Junto de ti
E amar…


As noras do nosso rio

As noras do nosso rio
Gemem, soluçam, dão ais
Têm a alma das tricanas
Nas noites dês festivais

Coitadas das pobres noras
De braços hirtos ao céu
Afogam as suas mágoas
Nas águas do Botaréu

O nosso rio correndo
No seu triste murmurar
De mansinho vai dizendo
Tricanas toca a bailar

Bailai, bailai à vontade
Dai largas ao coração
Que a noite da mocidade
É noite de São João.


Ricócó

Ai se fores ao rio
Lava na pedrinha
Junta a tua roupa, ó ricócó
Ao pé da minha, ai sim pois sim
Há mais quem queira, ó ricócó
Linda brejeira

Eu não sou brejeira
Nem o quero ser
Eu não tenho rendas, ó ricócó
P'ra te manter, ai sim pois sim
Há mais quem queira, ó ricócó
Linda brejeira

Eu não sou brejeira
Nem o quero ser
Eu não tenho palha, ó ricócó
P'ra te manter, ai sim pois sim
Há mais quem queira, ó ricócó
Linda brejeira

Coro das Sardinheiras

As canastras da sardinha
São bercinhos d’embalar,
Onde embalo os meus cuidados
Quando me vou a deitar.

Sardinheiras são morenas
Morenas de cativar
Sardinheira da sardinha
Passa a vida a sardinhar

Não há morenas bonitas
Senão à beira do mar
Sardinheira da sardinha
Passa a vida a sardinhar

Sardinheiras são morenas
Morenas de cativar
Sardinheira da sardinha
Passa a vida a sardinhar

Os meus olhos fazem rede
Rede estreita de arrastar;
Quem me dera que os teus olhos
Fossem peixes a nadar

Sardinheiras são morenas
Morenas de cativar
Sardinheira da sardinha
Passa a vida a sardinhar



Águeda a linda

Mal desponta a madrugada,
Águeda-a-Linda a sorrir,
Parece moira encantada,
No seu leito de dormir...

E logo pela manhã
Vem p'ra rua tão contente,
Fresca como uma romã
A dizer a toda a gente:

Linda terra!
De tricanas e de amores...
Linda terra!
Das mais perfumadas flores...
Tricanas, bonitas,
Ó Águeda-a-Linda
Parecem dizer:
Seremos as fitas
Que um dia um doutor
Há-de vir escolher.

Ao domingo, p'ró mercado,
Desce o povo lá da serra.
Traz o milho, traz o gado.
P'ra vender na nossa terra.

E quando à tarde regressa,
Vai olhando, num adeus,
Vai devagar, não tem pressa,
Vai contente, vai com Deus!

Linda terra!
De tricanas e de amores...
Linda terra!
Das mais perfumadas flores...
Tricanas, bonitas,
Ó Águeda-a-Linda
Parecem dizer:
Seremos as fitas
Que um dia um doutor
Há-de vir escolher.



Povo que lavas no rio

Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

Fui ter à mesa redonda
Bebi em malga que me esconde
Um beijo de mão em mão.
Era o vinho que me deste
Água pura, fruto agreste
Mas a tua vida não.

Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição.
Povo, povo, eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida não.

Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.